Na nossa vida guardamos recordações sempre presentes no nosso dia a dia. Recordamos com amor e carinho pessoas que sempre ocupam lugar em nossos corações.
Nunca fui pescador. Admirava as pessoas que têm este hobby, mas nunca tomei a liberdade de experimentar esta emoção de pescar um peixe. Um grande amigo, Silvio, fanático por pescaria, sempre convidava para participar de uma pescaria. Já em idade um tanto avançada, participei de uma pescaria no Pantanal, com um grupo. Tinha curiosidade de conhecer aquela maravilha. Pescaria bem organizada, com ônibus especial, serviço de bordo, com chegada em Porto Murtinho, onde fomos acolhidos pela equipe do hotel. Logo após, preparativos, arrumando o material para, no dia seguinte, aguardar os barcos e iniciar a pescaria.
À noite, no hotel, a 1ª surpresa: um ótimo jantar e, após, um show de canto da proprietária do hotel. Na manhã seguinte, bem cedo, partimos nos barcos, com o piloteiro, que buscava os melhores lugares. O amanhecer, no Pantanal, é indescritível. No barco, além do piloteiro, Silvio, Silvinho e eu (iniciante). Nunca manuseara uma carretilha. Mas vamos lá... Iniciamos a pescaria. Os companheiros me ajudavam. Em determinado momento de entusiasmo, meti o pé onde estavam os caranguejos, que serviam de iscas, os quais subiram pela minha perna. Quase me joguei no rio, apesar dos jacarés. Como o peixe não sabe de quem é a isca, tive a sorte de fisgar um peixe grande, que retirei da água com a ajuda dos companheiros. Silvinho não gostou muito, e quando fisgava um peixe, procurava esticá-lo para deixar maior. Nosso piloteiro ouviu meus companheiros me chamarem "Mario" e não compreendeu, e, a partir dali, sempre me chamava "Chumario". Silvinho, a partir dali, sempre me chamava Chumario. Estive mais três vezes no Pantanal, e se dispusesse de condições físicas, teria voltado.
Em uma dessas vezes, com caniço e iscas de coquinho, fisgamos, em pouco tempo, 24 pacus. Isolados em uma ilha, saboreamos alguns deles, temperados com sal e cerveja. Em outra pescaria, Jorge Brandão fisgou um jaú, de 56 quilos.
Estive também, com Silvio, na Argentina. Os companheiros me trataram muito bem. Munari, de saudosa memória, ótimo cozinheiro, sempre preparava algo especial para mim, mas os peixes não eram abundantes, como no Pantanal.
Há cinco anos, em férias em Garopaba, quando acordado por um telefonema, acontecia a tragédia da Boate Kiss. O que sentíamos, distantes, ao ouvir as notícias e, depois, pela televisão é inesquecível. Imaginávamos os que estavam assistindo àquela tragédia, ao vivo. Com netos e filhos de amigos, que sempre saíam à noite. Vivemos momentos dolorosos.
Silvio e Marta, que estavam conosco, em Garopaba, haviam decidido voltar para Santa Maria quinta-feira, dois dias antes do planejado. A comunicação estava muito difícil. Soube que o carro do Silvinho estava no estacionamento do Carrefour, mas notícias dele, mesmo, só tivemos mais tarde. Perdi um grande amigo. Nunca mais ouvi aquela voz chamar "Chumario". Sei que Silvinho, hoje, está em lugar bem melhor. Junto com Pedro, Thiago e André, deve estar falando das suas pescarias, contando suas e aventuras. Diariamente lembro e agradeço os momentos que vivemos juntos.
Por Silvio, Marta, Eduardo, Thais e Lucio, que Deus os fortaleça nesta dor, e saibam que Silvinho, lá no céu, com seu sorriso, cativou a muitos e pode interceder por nós.
Norteio minha vida, para quando chegar lá, ouvir aquela voz me chamando: Chumario.